Em lua Cheia, batom vermelho

Lá estava ela segurando sua taça e conceitos, na sacada da sala. Dispensando chocolates e tijolos; um metro e oitenta moldados delicadamente, estrutura de aço. Ingenuidade que transborda é acaso, sem intenção. Cuida de um ferro velho emocional, desmancha corações e vende as peças. Morde seus lábios inferiores antes de cruzar o corredor e ai daquele que tropeçar em seu sorriso. Secou o Martini e já passavam das três, silenciosamente deita ao lado de seu marido e adormece seu castelo de pedras.

Carta para estranha

Entre os cantos desse apartamento gelado, ecoam pensamentos falhos que quando se possibilitam realidade, adoeço. Verão vestido de inverno glacial já foi minha praia, hoje, no máximo, minha fazenda no interior. Peço por dias azuis sempre que encosto meu pé direito no chão, ao acordar. Minha saudade, fotos imaginarias espalhadas pelas paredes...meu sentimentalismo todo colabora com o aquecimento global, suponho, só me trás caos climático, tempestades e enchentes, em plenos teóricos dias de sol. Andei sentindo falta enorme de pessoas que sempre tive por perto, mas mantinha contato mínimo, muitas vezes apenas virtual.

Outro futuro

Eu quero pausar o destino. É, misturar nossas fitas cassete, nosso tempo. Ter seus cabelos em minhas mãos. Já esta ficando escuro, e aqui sentado, dentro dessa cabana afastada do resto do mundo. Lavo nossas fotos com lagrimas de saudade, de arrependimento, medo do rumo que a rua vai nos levando. Não vou mostrar pra ninguem. Vai ser nosso melhor momento. O beijo roubado que fez o trajeto errado, nasceu ao contrario e nos serviu como despedida.

Neon

Sua mão suava e seus olhos percorriam leste a oeste, todo o ambiente. Esperava aflito por Catherine. A possibilidade perfeitamente cabível de um desencontro planejado estava praticamente concretizada. Com vinte e sete minutos excedidos, contados segundo a segundo, o sapato salto alto preto adentra a porta do bistrô, seguido por toda obra: pernas, curvas, cabelo longo e, é claro, olhos verdes. A troca de olhares imediata já dispensara toda palavra que correria a tarde regada à café e cigarros. Sentou-se frente a ele e sorriu desespero disfarçado, ainda sim esbanjando encantadora felicidade. Tocou suas mãos e estavam congeladas, como as dele. Não houve calor, esfriaram-se ainda mais. Sentiu saudade das cartas, da distância, do prazer em imaginar sem o atropelamento de qualquer realidade. As horas criaram asas. Alguma agonia passou a reinar na mesa: prestes a se separarem novamente, dessa vez sem trocar endereços, sem data de volta. Abraçou-a e perdeu a queda de braço contra suas lagrimas. Estas contornaram sua face ate tocar o ombro dela. Na vitrola a velha canção amaciava: “Quem pode negar? Estamos no topo”. De alguma forma, sempre eles. Sempre.

Dias como diamantes

Deslizando os dedos sobre os arcos empoeirados, toda aquela vista ampla foi queimando em nostalgia, como meu cigarro. Talvez ainda tenha que aprender muito sobre distancia. Passaram a me abraçar com algum desespero e eu ainda estou por entender no que isso tudo vai dar. Vou despedaçando meus diarios em pedaços pequenos e lançando à deus dará. A lagrima ainda petrificada e timida quer sentir falta. Dias como diamantes, de brilho magnifico e prontos à serem quebrados. Cinco, quatro, três, dois, um.

Silêncio para quem sabe falar

Eu sou o filho de qualquer lugar que me trate bem, de qualquer respeito à ser trocado. Dois sacos inteiros de sopa de letrinhas, e nenhum bom resultado frente a forca no papel... que palavra é essa que quer me alertar da bomba depois da guerra toda. Caminho por campos floridos, amasso papeis e jogo no lixo. Sem pensar duas vezes, que é para não voltar atrás.